confissões de uma mãe que não sabia que podia ser mãe

 

Pequenino, hoje vou te contar como a mamãe descobriu que estava grávida de ti

 Confesso que a idéia de ser mãe passava longe do meu imaginário naquela época, mamãe morava em Portugal, numas férias bem estendidas (que o vovô quase esganou mamys quando ela resolveu prolongar as férias que eram, a princípio de 3 meses, para uma pequena experiência de morar fora do pais, e assim poder ver o primo luiggi nascer)

 Era fim de ano, friiiiio que doía, a cidade inteirinha linda, iluminada e enfeitada para o natal, aquele clima de felicidade e família que toma conta das pessoas nas comemorações de fim de ano e que amo tanto (hoje, não posso imaginar cenário mais bonito para descobrir que me tornaria tua mãe!), mamys estava trabalhando numa loja de gifts para juntar uma grana porque queria viajar (destino=Marrocos ai ai, mal sabia que a maior viagem da minha vida já estava acontecendo, dentro de mim!) e, de repente tive um desejo absurdo de comer MAÇÃ VERDE!  O que era muitíssimo estranho pois, até a mamãe ficar grávida de ti, comer qualquer coisa saudável era inimaginável mas, até então a idéia de poder estar  grávida era algo surreal.

 Falei com a tia Dani pela internet e comentei algumas coisas e ela levantou a possibilidade da mamãe estar grávida... SERÁ???

 Confesso que a minha idéia de maternidade naquela época era bem utópica, sempre acreditei que para se ter um filho era preciso ter muito planejamento, uma condição financeira maravilhosa de forma que se pudesse oferecer tudo de melhor para a criança e uma família muito bem estruturada, mãe e pai casados, e que se amassem loucamente, para ser assim, uma família de propaganda de margarina, qualquer condição diferente disso seria egoísmo da mãe, que por um capricho seu, iria trazer uma criança ao mundo sem poder lhe dar as melhores condições de vida.....

COMO AS COISAS MUDAM.... COMO A IDÉIA DO QUE SÃO AS MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA PARA UMA CRIANÇA MUDAM!

 Bom, quando a mamãe engravidou de ti estava beeeem longe, anos luz eu diria, da situação acima descrita, a mamãe estava no meio da faculdade, morava ilegal em outro país, e ela e o papai eram melhores amigos apenas

O que pensar?o que fazer???

 A mãe não é contra o aborto, continuo acreditando que trazer um bebê ao mundo apenas por trazer é muito leviano, deve-se pensar muito bem o que se tem para oferecer para esse serzinho tão especial, que vai necessitar de tudo, carinho, amor, dinheiro, paciência entre muitas outras coisas...

 La em Portugal, o aborto é permitido até o 3º mês de gestação então, esta era uma opção possível para a mamãe, e a principio, COM BASE APENAS NAS MINHAS IDÉIAS PRIMITIVAS SOBRE A MATERNIDADE, era uma hipótese a ser cogitada

 Fiz um teste de farmácia (que guardo até hoje) e, quando vi as duas listrinhas (que significavam gravidez) fiquei tão em choque que não consegui pensar em nada, agora, parando para pensar, relembrando o fato, vejo que o que tomou conta de mim foi uma sensação imensa de medo

 Medo de não saber o que fazer, medo de não saber como seria, medo de contar as outras pessoas, medo do que aconteceria, medo de não saber ser mãe

 O papai estava comigo, conversamos e ficou claro que era a mamãe quem decidiria o que iria acontecer.

 Levou uns dias até cair a ficha e mais uns quantos dias até a mamãe criar coragem de contar para a dinda, ela, dentre todas as pessoas, foi a que mais me surpreendeu quanto ao fato, e foi o meu segundo presente depois de ti, pois ela, ao contrário de mim, sempre desejou fervorosamente ser mãe, é totalmente contra o aborto, não morria de amores pelo papai, e sempre foi meio minha mãe, me ajudava em tudo, me ensinava muito mas também me dava muito xixi e a mãe respeitava muito ela então, sua opinião pesaria muito na situação! E, SURPREENDENTEMENTE ela me deu todo o apoio do mundo, foi quem mais me compreendeu, não impôs suas opiniões em nenhum momento, não me questionou, não brigou, não me julgou...só me ouviu e me deu a mão, fosse qual fosse a minha decisão.. foi aí, que a mãe ganhou, além da irmã maravilhosa que ela sempre soube que tinha, também uma super amiga, que sempre desejávamos ser mas que a vida e os conflitos de irmãs  de idades diferentes geravam

 A mãe falava e de fato, achava que ponderava, a hipótese de interromper a gravidez... isso porque brigava com a minha razão (que sempre acreditou num modelo ideal de maternidade) um amor materno, irracional e instintivo mesmo, que se quer sabia que existia.

 Ao contrario do que muitos pensavam, não era avessa a ser mãe, muito pelo contrário, sempre achei lindo não só os bebês mas a gravidez, a barriga, vez la que outra botei almofadas para ver como seria e tal mas, ser mãe era algo para o futuro, e, se planejasse a minha vida tal qual idealizava, ou achava que era o mais correto, talvez se quer acontecesse.

 Enquanto dizia que não sabia o que iria fazer, a mamãe foi trabalhar e teve um pequeno sangramento.........

–NOSSA, QUE DESESPERO! Naquele exato momento, não restou mais duvidas de algo que sentia desde o inicio (até mesmo antes da confirmação do teste de farmácia) mas que não sabia como admitir, eu te amava mais que tudo na vida e não queria por nada no mundo te perder

 Eu estava trabalhando, e mais do que nunca precisava trabalhar!(não sabia quais seriam as reações das pessoas quanto a minha decisão, como eu faria para te ter mas fosse como fosse daria conta e seriamos felizes!) então ainda tive que ficar algumas horas na loja até me liberar, --meu deus, que dia bem longo, que agonia, tudo o que eu queria era me deitar e botar as pernas para cima porque a impressão que dava era que se fizesse isso não iria te perder.

O dia acabou, a dinda (sempre a dinda) me levou ao hospital, eu chorava sem parar, o médico foi tão amável, acho que percebeu meu desespero e imprimiu a ecografia para a mamãe te ver e ver que estava tudo bem contigo e assim, voltei para a casa MÃE, SEM NENHUMA NOÇÃO PARA A MATERNIDADE MAS, A MULHER MAIS FELIZ DO MUNDO COM A PRIMEIRA FOTINHO DO MEU FILHO NAS MÃOS E TODOS OS MEDOS DO MUNDO NOS BRAÇOS MAS, COM A CERTEZA DE QUE TUDO DARIA CERTO E QUE NÓS DOIS SERIAMOS FELIZES!

 E foi assim, que descobri que era tua mãe! E, tu me fez descobrir, que para ser mãe precisa sim, de boas condições de vida para oferecer ao bebê mas, sobretudo, precisa de AMOR, um amor tão grande que não cabe na gente, que a gente nem sabia que existia e poderia sentir e, com esse amor a gente consegue qualquer coisa! Até exercer a maternidade fora daquelas condições ideais para isso, e ser muito feliz ao final do dia, com um beijinho de amor (como tu costuma me dizer e um pedido de carinho nos chulés....)  TE AMO MEU PRINCIPE!